Pés- Magritte
Piso novamente esta terra, descalço de pés e alegrias.
Vem de longe o sabor
tantas vezes requentado do estar juntos;
tantas vezes requentado do estar juntos;
Temperado com vinagre e mel de abelha-rainha;
Servido com ervilhas.
Sinto o odor apimentado das injustiças;
Sinto o odor apimentado das injustiças;
Meus mirantes projetam olhos de lince,
vejo além das cordilheiras.
Escalo meus Andes e Everestes, sem vertigens.
Navego tempestades agarrado nas águas,
âncoras onduladas.
âncoras onduladas.
São gorjetas os dias que me restam.
Passei dos cinquenta, vivi muitas vidas,
singrei os meus mares.
Rompi algemas,
Rompi algemas,
derrubei senzalas e o fascínio do poder.
Na andropausa da vida,
o calor brota de dentro.Coisa dos “enta”.
Não me vendi por trinta moedas.
o calor brota de dentro.Coisa dos “enta”.
Não me vendi por trinta moedas.
Ainda sou húmus. Fecundo mentes e corações.
Deixo rastros, marcas inscritas nas paredes de pedras.
Em tom vermelho.
Agora sou uma epígrafe no epílogo da vida,
Agora sou uma epígrafe no epílogo da vida,
post scriptum de múltiplas façanhas.
Incompleto e inconcluso, tropecei muitas vezes.
E eis-me de pé, alerta, bradando impetuosamente:
Outra vez! Intensamente!!!
Moises Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes