Como a águia aos 40,
faço opção por mais algumas décadas.
Por isso, ocupo desertos estranhos.
Na caverna erma e fria ,
arranco pedaços de mim
e os refaço sem escrúpulos.
É meu esse tronco quase retorcido,
de casca grossa, chamado corpo.
Beijado por lábios ternos
e porradas muitas,
comido por muitas fomes,
celeiro de carícias e buscas tantas...
É minha, toda minha, Oh, gentes!
Essa carcaça-fortaleza de labutas incontáveis,
forjada nas lutas.
Essas muralhas vestidas de festa,
entrecortadas pelo (en-)canto da sereia
e viúvas em dia de finados.
Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes