percalços e os nãos
que trazem meu endosso.
O silêncio que não foi palavra,
a palavra que refugiou-se na mudez.
Resta-me a lição:
um não faria outra vez,
a cabeça erguida,
o passo em frente.
Mesmo assim,
amanheço todos os dias
embalado no adeus das madrugadas;
ressaqueado de cigarros,
enfastiado do cheiro das guimbas mau-fumadas,
mergulhado em minhas viagens matinais,
nos restos da noite que ficaram na cama.
Continua pendurada no cabide
a camisa cor-de-abóbora
que vesti à meia-noite.
Guardo da décima quinta lua-de-mel
a magia do colo
em que repousei meus cansaços.
Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes