"(...) Em meus escritos, quase sempre falo do dentro-de-dentro, do que estraçalha o peito, das cascatas de lágrimas sulcando lábios carnudos, do coachar dos sapos na várzea, da beleza do Maquiné e das estrelas que estranham a demora da lua. Também da perversidade dos homens e seus sistemas de poder e ganância, máquinas de moer gente e aquela felicidade, como diz Guimarães, que se encontra nas horinhas de descuido...
Sou um aprendiz, tecelão das utopias próximas do longe. Talvez o único mérito que tenha seja o de cavalgar na ousadia e partilhar indagações na cadência do verso desnudo da armadura da métrica e da clausura da rima, vestido no traje de gala da busca, da palavra que canta a chuva que molha desejos, dá sabor à braquiara e vigor ao Guzerá, boi esguio e formoso, sempre a nos olhar, como quem faz as perguntas que ainda não foram feitas...(...)"
Moisés Augusto Gonçalves, fragmento do discurso de posse na Academia de Letras de Cordisburgo, em 31/07/2009