quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fragmento V

                                                          Foto: Márden Moreira de Carvalho

A indiferença se aproximou muitas vezes 
    com sua sedução e náuseas a tira-colo.
Com seus apelos em dó maior,
promessas de vida longa e um estampido.

Não freqüentei seus bordéis de virgens
defloradas na tarde da última chacina.
Desconfiei sempre das alianças e acordos
tramados na calada da noite e das gentes.

Conspiro sempre contra a ordem
e sua produção de mortes cotidianas.
Incorporei deuses e demônios em minhas andanças.
Vivi infernos e paraísos,
pois é deles é de que é feita a vida.
Momentos.
Hic et nunc, aqui e agora.

O canto da sereia ofereceu inúmeras vezes
oceanos de paz e o exílio das tormentas;
Atalho entre caminhos inóspitos,
lutas sem créditos e dúvidas.

Não me refugiei na mudez que consente.
Meus lábios brandem recusas.
Bobo da corte, profanei tronos,
zombei das majestades e sua pompa.

Continuo fazendo chacota dos rituais do poder,
seus mitos e imaginários.
Desafino o coral de ostentações
que o acompanha e sua imponência.
Exilei a indiferença.

Tomei posições incômodas
 ao colocar o dedo em muitas feridas,
ao desacatar autoridades.
Sangraram em mim os rótulos e estigmas.
Fiz-me encouraçado.
Persona non grata.
Estrangeiro em meu torrão natal,
 mapa de exílios.

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes