sábado, 17 de agosto de 2013

"Pertencer à situação é o destino natural de quem quer que seja. Mas pertencer à composição de um sujeito de verdade depende de um traçado próprio, de uma ruptura continuada".
Alain Badiou

Ofereço ao leitor meus fragmentos. Os pedaços que me fizeram possível, até o instante... A matéria que trabalho com as mãos e os fiapos do coração. Que tentei dar formato e sentidos nas muitas luas que vivi. Retalhos que costuro na tessitura da vida. Indagações, respostas provisórias e perplexidades. Um quê de escândalo e irreverências explodindo pelos poros. Impertinentes!

Faltam algumas peças em meu quebra-cabeça e outras tantas que não se encaixam. Por isso mesmo, la nave va... guiada por muitas luas...

Peregrino de muitas estradas, toquei lugares, senti gentes. Cidadãos dos mundos fora e dentro de nós. Precipícios e maravilhas interiores, visitados com intensidade, desbravados com ousadia, lidos com outras razões, as de quem já chegou aos cinqüenta... Tocha grisalha e rebelde. Paisagens tocadas com os dedos dos olhos e as digitais indeléveis do coração. Quase sempre extasiado, dopado de encantamentos e frustrações.

Cenários de muitos tons e injustiças – as que vivi em mim e nos outros - , de muitas vozes e ecos mudos, de muitos sons e possibilidades. Palco de muitos “nós” e “eus” (des-)velados.

Everests escalados sem temores; terra batida, pisada com ternura. Precipícios superados com tremores, sob o luar cândido e a brisa fria. E muitas...muitas...muitas tempestades... E os infernos que vivi...

Fortaleza esculpida na pedra bruta - fragmentada e fragmentária -, convencido de que definitivo mesmo é só a busca apaixonada e persistente; atravessada de encantamentos, coerência que não tem preço; que não se vende no balcão dos negócios; marcada de recusas às negociatas e interesses escusos. Codinome: resistência.

Luta atravessada de amores e utopias sem véus e medidas tacanhas. Batalhas travadas no dia-a-dia de tudo o que balança e respira. Peito aberto, punhos cerrados, mãos estendidas...uma “terra sem amos”...! E já que não pertenço à situação, nem me acomodo à (des-)ordem vigente, vou-me (re-) fazendo a cada instante sobre alicerces de rupturas...!

Moisés Augusto Gonçalves, Prefácio do livro Fragmentos Impertinentes