sexta-feira, 27 de julho de 2012

Fugaz

Não mais que uma palavra
e quase tudo se dissipa:
o vermelho escarlate das vaidades,
a tolice dos que se atolaram na mesmice,
a mecha rascunhada de preto no desenho do suicida.
De quebra,
o triunfo fugaz dos demagogos,
as promessas decantadas nos palanques,
a sordidez dos palácios e suas armadilhas,
o vazio do vazio que nada acrescenta
a não ser mais vazio...

O que fica?
A força da palavra suspensa sobre colunas de perguntas,
pronunciada sem parcimônias no dia das proibições,
persona non grata - de tão atrevida -,
seta certeira que atinge tendões de Aquiles
e flutua serena nas águas do mar que não se sabe morto.

Moisés Augusto Gonçalves, in Depois de muitas luas