segunda-feira, 18 de junho de 2012

Leitos diurnos


Imagem: Anne Geddés

Restauro forças exauridas pelas privações
e abusos da caminhada.

Dirijo o olhar para a relva do campo
que atapeta meu peito... E nasce uma flor.

Arranco as pétalas da poeira do tempo 
e a ferrugem das coisas.

Minhas expectativas estão deitadas em leitos diurnos,
risonhas, `a espera da lua.

Tenho as vidraças trincadas de pedras,
atiradas pela louca da esquina.

Na testa franzida e nos ombros, 
carrego o peso do mundo.
Um pé de galinha ensaia seu ninho perto do olho esquerdo.

Sou um olhar voltado pra mim, 
arremessado ao longe, feito coração;
Lança afiada rasgando o peito.
Amante da festa, do encontro, da justiça e de homens.

Pego as estrelas que se apagaram sem aviso prévio.
Ainda há luz, mesmo que seja na solidão das lembranças.

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes