sexta-feira, 10 de junho de 2011

Minhas armaduras de certezas
e palavras de ordem ficaram obsoletas.
Aposento modelos e figurinos
que outrora explicavam o céu e a terra.

Os cenários do agora pedem roupagem nova
e personagem astuto.
Esvazio dispensas e prateleiras,
é dia de faxina geral.

Muitas das novidades que festejei
são peças de museu a falar de outros tempos.
Acumulei muitas dúvidas ao tocar a vida
e consultar meu travesseiro de macela e alecrim.

Pertenço ao seleto grupo
dos que ainda estão a esperar a hora da partida,
chorando a ausência dos que já se foram,
de malas prontas, insistindo em ficar.

Minhas sandálias estão largadas no canto do quarto,
chamando meus pés.
Tenho os pulmões inflados de fôlegos lânguidos,
esfumaçados de vícios.
Uma teimosia insistente a arrastar-me todo,
antes que a noite chegue...

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes