quinta-feira, 7 de abril de 2011

Imagem: Magritte

Tem apenas uma letra
o grito que irrompe de meu âmago:
a que escreve todos os nomes,
navega mares revoltos,
rascunha o começo das cartas de amor
e os rituais de condolências;
a que assina de esperanças o choro do nascituro
e suas promessas de futuro.

Aquela mesma,
testemunha dos gemidos dos amantes
e de seus corpos molhados de quero-mais;
 a que acompanha sentada no encosto da vida,
o suspiro das faces pálidas de despedidas
e suas saudades largadas ao vento,
poeira com sabor de não-se-vá,
indagação lasciva do pra-onde-vou...

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes