sexta-feira, 4 de março de 2011

Gritos de liberdade



Do Rosário,
os teus mistérios,
Senhora-mãe de todas minhas,
de todas elas,
todas-tolas,
as senzalas.

Nos gozozos, o anúncio
de cadeias se rompendo
e o hímen dos meus desejos,
rebelado,
ventre-livre,
liberdade,
(des-)acenos.

Dolorosos, ó Senhora,
pelourinhos,
muitas correntes,
meu sangue-negro,
meu sangue-forte,
meu sangue-sangue,
meu sangue-raça,
meu sangue-vida,
mais do que lava
a Vila grande
- que não me cabe -
a Vila Rica.

E que dizer, Senhora Santa ,
daquela glória,
miragem minha,
daquele sonho negro forjado,
daqueles sulcos nas costas nuas,
das minhas cruas carnes dilaceradas?

Longe daqui, Senhora santa,
coqueiros bailam,
minha terra clama.
Minha glória é luta,
soa meu grito
- mil liberdades -
ainda que longe,
ainda que tarde.

Moisés Augusto Gonçalves, in ruas vazias de gente 
Ouro Preto, escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário