terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Imagem: João Ripper

Mar de vento cortando caminhos e faces,
sopro pedindo passagem na curva da trilha virgem de pés.
Velha sentada na soleira da porta tecendo passados,
cozidos no fogão da memória lenhado de ausências,
forno das saudades que assa o agora em fogo brando,
servido em (des-)jejum.

Viajante sem rumo sentado na beira da estrada do onde (?);
norte perdido na encruzilhada do ontem que não se foi,
fantasmas assombrando o presente e os casebres
na encosta dos dias e das privações.

Faca afiada na pedra polida da quina de um mundo errante,
cabo de madeira com registro da última floresta,
noite deitada na serra à espera da aurora e seus bons-dias...

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes