sábado, 1 de janeiro de 2011

Fragmento XXXV

Meus barracos de madeira e suas estacas
ainda resistem aos cupins e rachaduras.
Um naco de pão testemunha a dispensa vazia.
Corroído por dentro,
mantém a formosura das aparências.

Ignoro a regra trinta e três do manual de conduta
e todas as outras.
Na cela de minhas paixões,
aguardo o raio do sol
anunciar o dia.

Minhas têmporas ameaçam explodir
no dia santo de guarda
à porta do palácio cercado de grades,
pompas, hipocrisias
e gente faminta.
Permaneço lôbo da estepe
a escalar montanhas mágicas.

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes