quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Onde estão?

Vejo as ruas vazias de gente e 'bastas' em multidão.
Foi-se o tempo das palavras de ordem vestidas de vermelho,
das bandeiras e jornadas salpicadas do sangue das lutas,
rasgando solenes - braços em punho - o coração da cidade.
Abnegada, a militância fervia utopias ungidas de justiça,
sem vendas nos olhos e servida a todos no banquete da vida.

Vejo as ruas vazias de protestos e 'bastas' em profusão.
Procuro em vão na passeata das cinco, os operários do futuro.
Onde estão?
Quem os devorou?
O canto da sereia ou a mosca azul?
O canto livre, sucumbiu ao vil poder?

Vejo palácios repletos das gentes que outrora brandiam recusas,
que ocupavam as ruas e as enchiam de gritos,
arrancados das entranhas do salário-de-fome,
da panela vazia,
da dignidade roubada e do verde-esperança.
Seus delírios de poder, agora,
gerenciam interesses alheios.
Alhures.
Plantam silêncios perplexos,
semeiam a descrença,
sem incinerar sonhos;
a tempestade que se anuncia
promete devassas, mas não aborta esperanças,
pois esconde o arco-íris.

Desfraldo as bandeiras que me restam
e sei que ainda existem companheiros.
Eu os procuro no burburinho das avenidas
e no formigueiro das gentes.
Conto-os nos dedos,
sobreviventes dos 'tsunamis' do poder.
Descubro-os outros forjados nas temporas sem peias
das labutas da vida,
redesenhando seus gritos,
costurando resistências,
reinventando projetos,
moldando com as próprias mãos a dignidade roubada.
E eu os quero multidão...

Moisés Augusto, Postfacio de 'Brados retumbantes- repertórios de dominação, resistências e utopias na terra-brasilis'