Tenho um lugar reservado na mesa
para o amor desconhecido.
Ofereço um brinde ao futuro,
aos seus mistérios e cupidos.
Há sempre uma vaga aberta no coração,
chagado de desejos e taras.
Partido.
Não conheci o amor
vendido nos livros e novelas,
sempre com final feliz.
Recebi muitos xis em meu âmago.
Senti seus grafites,
bebi sua tinta.
A sisudez de meu semblante
fala de recusas e anátemas.
Ouço a voz rouca dos ausentes,
vejo seus esconderijos nas pedras.
Continuo estrangeiro
onde quer que eu vá,
em qualquer lugar.
Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes