sábado, 25 de dezembro de 2010

Ela, a palavra....

Grupo Corpo

(...) A palavra que dança às margens do Córrego do Onça e se banha, se quebra e corre, nas pedras do Lajeado que há pouco descobri em minhas andanças, na inseparável companhia de meu caderno de anotações e minha sozinhiidão, permita-me Guimarães Rosa;
A palavra que indaga a esse silêncio que vem de longe, os porquês da injustiça e da opressão, o quando do canto livre, o como esculpir amanhãs paridos das pedras e carregá-los no peito, vestidos de aurora;
A interrogação doída que se espanta com o despedaçar da flor e a usurpação de nossos jardins;
A palavra que se recusa a permanecer sepulta no peito e, guerreira, desata os nós na garganta;
A palavra que ainda não gritou todos os seus gritos e se recusa a fechar a última porta;
A que espreita pelas frestas das “Minas”, repousa nas montanhas de suas “Gerais” e se esconde na boca da mata à espera da onça e da lua...(...)

Moisés Augusto Gonçalves - Fragmento do discurso de posse na Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, em 31-07-2009