sábado, 18 de dezembro de 2010

De repente, encontro a pétala ressecada na página dezesseis - do livro que li apenas uma vez - e que, agora incontinente, sem porquês, recebe meus retornos. Por isso a perdi... ou larguei à espera do depois, com jeito de não-me-sabes

Encontro fortuito, carregado das memórias que guardo à sete chaves e um soluço, que ecoa pelas frestas e trai os meus segredos. Por isso, as minúcias que afloram não são detalhes. Grávidas de sem-nomes, revelam o mosaico das digitais dos silêncios não gritados. Com sua aura de arco-íris, tons fortes, falam da despedida, ou antes, do último beijo que regou os músculos do coração, alimentando o dentro-de-dentro.

Ósculo que deixou inscrito no peito um X (xis), desgastado pelo tempo e as intempéries do ainda-te-quero. Adeus, não! Pétala ressecada que perpetua teu odor amadeirado, prenúncio do outra-vez, quero-de-novo, desejo-bis, botão-em-flor.

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes