Carrega no alforje da vida muitas sementes,
páginas em branco no caderno de memórias
- outras tantas rasgadas nas bordas,
outras muitas rasgadas ao meio -,
um pedaço de fruta mordida de véspera,
um catálogo de nomes escritos até à primeira letra.
Maiúsculas. Em negrito solo.
De que não se sabe quem.
Fortes! Como cabe aos partem, insistindo em ficar.
De que não se sabe quem.
Fortes! Como cabe aos partem, insistindo em ficar.
Homem de uma nota só e muitos tons,
possuído pela magia célere dos pássaros,
dos amores des(re-)feitos,
das incógnitas do daqui-a-pouco,
da terra pisada com pés de pluma,
ninada no colo com cantos de mãe.
Imagem: Anne Geddés
Parto doloroso do quero-mais
das alegrias de visita breve,
da descoberta mostrando a cabeça,
por detrás da montanha de papel machê.
Encontro marcado aos pés do ipê amarelo,
Penduradas no peito,
medalhas conquistadas no campo de batalha
contra a penúltima fome e suas primas,
as estátuas do medo plantadas na curva da estrada.
Saudades do abraço de não-se-sabe-quando,
mágoas com barba por fazer,
botões em flor aguardando o primeiro raio de sol.
Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes