sábado, 27 de novembro de 2010


Foto: Pierre Verger

À quatro mãos fecundo o poema.
É preciso mais.
Circula sangue vermelho em minha veia poética.
Quebrei as molduras.
Sou da estirpe dos que pegam
o mundo com a esquerda
- punhos cerrados -,
e o vestem de belezas futuras,
edifícios do amanhã,
que não encontro,
mas construo.
E assim abraço o mundo
aos sons da Internacional,
do canto livre,
tantas vezes abortado na história.
Também a pedagogia da derrota.
Um palpitar colado nas lutas,
porque elas continuam decisivas,
ainda que silenciadas.

Um réquiem sem perdão para os Muros da Vergonha,
Gulags, Guantánamos, Abu Ghrais e DOI-CODIs.
Porões das ditaduras
e da estupidez de todos os fundamentalismos.
Inscritos nos corpos e mentes,
a ferro e fogo,
lenta e dolorosamente.
Espelhos de ganâncias,
refletindo os podres poderes
e seu arbítrio.

Moisés Augusto Gonçalves, in Fragmentos impertinentes